O monge foi caminhando com o mestre zen pelo riacho frio junto ao mosteiro nas montanhas.
A certa altura, debaixo do sol transfigurante, o discípulo perguntou aquele nobre ser de barbas brancas, afinal, o que é a sabedoria maior no zen?

O mestre, como que falando com o vento doce, respondeu:

"O zen é como se uma pessoa fosse caminhando para encontrar o fim do mundo.
E essa pessoa caminhou caminhou caminhou e chega a um determinado lugar, e esse lugar está cheio de pessoas, e essas pessoas dizem:

Aqui é o fim, depois disto só há o Nada.
O Nada existe, mas tudo o que é lógica, tudo o que é compreensão, aqui termina, diziam elas.

A pessoa então continua a caminhar e pensa:

A maioria das pessoas fica aqui mas eu atravesso este lugar e volto...

Sabe o que o verdadeiro praticante Zen faz? - perguntou o mestre.

Ele mergulha e ele se atira de cabeça, fica imerso no que não é conhecido com a meditação e a concentração, porque os meus conceitos, as minhas palavras, as minhas expetativas já não alcançam estas alturas, e é lá, nesse grande vazio, onde eu me atiro e mergulho, é lá, onde eu não sei o que vai ser, eu mergulho no que eu não sei…
No grande vazio, no vazio da mente aberta e concentrada…
Atravessando o Nada e voltando, cada vez mais cheio no coração.

E quando não há esperança?
E quando a esperança acaba? - perguntou o discípulo assustado.

O mestre sorriu.

"Sabe que nós gostamos quando acaba a esperança.
Para vocês fica um aperto no peito quando falamos disto.
Vai acabar a esperança… Dizem vocês assustados.
Isso é bom.
Porque quando não temos expetativas nenhumas, nada para ganhar, nada para perder, somos realmente aquilo que somos.
Somos realmente quem somos.
Somos o Ser.
Aí você acede à sabedoria enlouquecida.
Aí você acede à verdadeira sabedoria…

O vento passou como um pequeno uivo bom vindo do fundo de um sonho.

E o discípulo monge continuou caminhando pelo monte.
Agora ia sozinho.
E foi descendo até ao vale.
Queria falar às pessoas e acordá-las do seu sono profundo.
Aí você acede à verdadeira sabedoria…
Aí você acede à verdadeira sabedoria…
Isto ouvia no fundo de si, dentro do seu eterno presente.
A voz do mestre era agora a voz do vento.
Ausente.
Mas ainda mais presente...





Comentários

Mensagens populares deste blogue