Era uma vez um homem curvado que ia andando pela floresta numa manhã fresca.
Na cabeça deste homem ia a negra ideia, como um fumo escuro, de construir uma cabana com a madeira das árvores da floresta.
Pegou no seu machado e começou a cortar uma árvore.



Uma divindade que vivia na árvore começou a gritar:

"Para, não derrubes esta árvore!"
"Para, não derrubes esta árvore!"
"Esta árvore tem vida, ela é um ser como tu!"

A divindade segurava o seu bebé ao colo e colocou o recém-nascido em frente do homem que cortava a árvore para o deter.
O homem curvado, envolto no fumo escuro dos seus pensamentos, não viu o bebé nem a divindade ao cortar a árvore com o machado, e ia cortando a árvores cada vez mais.
A divindade ficou furiosa.
O vento começou a rodopiar muito zangado.
Tão furiosa ficou a divindade que se encheu de raiva.
A divindade vermelha de raiva quis matar o homem curvado que cortava a árvore envolto num fumo negro de pensamentos.
No entanto, naquela manhã fresca, a divindade enfurecida sentiu uma suave brisa angelical que lhe segredava o ar puro do dia.



Uma voz, como um halo de luz, começou a falar por entre umas asas que se abriam:

"Quem controla a raiva que surge como uma carruagem fora de controlo eu chamo de verdadeiro herói digno de si mesmo.
Aqueles outros que apenas dão livre curso à raiva eu chamo de meros ignorantes. Eles seguram apenas umas rédeas em cima de um cavalo louco sem as usar.
Um minuto de paciência vale muito mais do que uma vida perdida num minuto de raiva…"

A divindade começou a pensar nestas palavras, dominou-se e refreou os seus impulsos de raiva para com o homem curvado que cortava a árvore na sua ignorância.
O homem continuava envolto num fumo escuro feito de pensamentos igual ao das chaminés das fábricas das cidades que iam matando a vida pelo planeta que rodava azul em volta do sol.
A divindade, transparente e bela, ainda chorava por ter perdido o seu bebé e a sua casinha na árvore.
O anjo com voz de halo de luz e longas asas abertas apontou então para uma outra árvore onde a divindade podia morar longe da loucura do homem com fumo negro nos pensamentos.



Sendo uma prenda de um anjo, nunca ninguém se atreveria a cortar essa nova árvore, nem os homens loucos com chaminés no olhar.
O anjo guardou aquela floresta com zelo como todos os anjos puros da Natureza e proibia com pequenos sustos, arrepios e horrores todos os homens maus que tinham intenção de cortar as árvores onde moravam as divindades com os seus bebés…
Afinal, todas aquelas árvores estavam vivas comunicando entre si por entre as aragens leves, os zéfiros suaves e os pequenos toques das folhas que entrelaçavam as suas copas verdes luxuriantes em abraços felizes.



E era num silêncio puro e tranquilo que as divindades das árvores se comunicavam e alimentavam os seus bebés, sem raiva e sem ódio, transparentes murmurando segredos belos na brisa enlevadas pelo brilho de amor do sol puro.


O homem com fumo escuro nos pensamentos acabou por morrer um dia mirrado em petróleo, químicos, lixo e loucura.
O anjo com voz de halo de luz comentou ao ver o homem curvado inanimado envolto numa mancha escura de óleo:
"Assim como fizeres acharás…"
O anjo abriu as asas a partiu rumo ao sol.








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