Artigo Científico - traduzido por . ' . Raphael  


A não aceitação de género e as memórias de vidas passadas.

por

Marieta Pehlivanova, Monica J. Janke, Jack Lee e Jim B. Tucker

 

Centro de Estudos da Perceção, Departamento de Psiquiatria e Ciências Neurobehavioristas, Universidade de Virginia de Medicina. Charlottesville, Virginia; USA.

 

Resumo

Objetivos: Este estudo investiga a não aceitação do seu próprio género em conformidade com o fenómeno em que as crianças pequenas descrevem memórias de uma vida anterior apercebida.

Métodos: Num case-study com 469 crianças que reportaram ter memórias e visões de uma vida passada, usamos o método da regressão logística para examinar os estudos prévios da não aceitação de género nas crianças, medidos por comportamentos de não aceitação do seu próprio género.

Resultados:  As crianças que lembraram uma vida onde tiveram um nascimento com o sexo oposto ao que têm agora têm mais probabilidade de ter uma não aceitação do seu estado atual respeitante à sua sexualidade definida com a respetiva orientação do que aquelas crianças que nasceram com uma sexualidade idêntica à da outra vida.

Conclusões: Depois de terem sido exploradas diversas explicações, concluímos que as memórias e as visões de vidas passadas representam um facto novo que pode ser associado como desenvolvimento para a explicação de casos de não aceitação do estado atual respeitante à sexualidade definida conforme a sua orientação padrão.

 

História do artigo

Recebido em 30 Maio de 2018

Revisto em 14 de Agosto 2018

Aceite em 4 de Setembro 2018

 

 

 

Palavras-chave

Não conformação com o seu próprio sexo

Identidade de Género

Crianças

Adolescentes

Memórias da Reencarnação

 

Introdução

Apesar da variação individual dentro da sexualidade padrão, desde cedo que rapazes e raparigas tendem a mostrar diferenças de comportamento manifestando preferências divergentes relativas a brinquedos, brincadeiras e companhias por exemplo (Campbell, Shirley, & Caygill, 2002; Golombok, Rust, Zervoulis, Golding, & Hines, 2012; Hines, 2010).

A partir da idade de três anos ou mesmo mais cedo, as raparigas, em média, mostram mais interesse em brincar com bonecas, com casas de bonecas, com artigos de cozinha entrando em jogos cooperativos, já os rapazes preferem brincar com camiões, carros, comboios, e armas de brincar entrando em brincadeiras tidas como mais duras (Maccoby,  Jacklin, 1987; O’Brien  Huston, 1985; Pasterski et al., 2007; Pitcher & Schultz, 1983; Ruble, Martin & Berenbaum, 2006; Servin, Bohlin & Berlin, 1999; Todd et al., 2018; Weisgram, Fulcher, & Dinella, 2014).

As preferências e brincadeiras com esse tipo de brinquedos foram observadas mesmo em grupos de crianças de 9 a 17 meses, ou seja, antes mesmo da idade onde a identidade de género normalmente é demonstrada (Todd, Barry, & Thommessen, 2017).

Com efeito, a partir da idade de 3 anos, a maioria das crianças preferem companhias do mesmo sexo (La Freniere, Straynor, & Gauthier, 1984; Martin & Fabes, 2001; Zucker, 2005).

Os comportamentos normais para a sexualidade demonstrada pelo género tendem a aumentar à medida que as crianças crescem e são estáveis mesmo atravessando a adolescência (Golombok et al., 2012, Martin & Fabes, 2001).

No entanto, as mudanças ao nível das descobertas foram registadas ao longo do tempo, em ambos os sexos, rapazes e raparigas, mas mais particularmente em raparigas, que tiveram brincadeiras com brinquedos mais dirigidos para raparigas, e para rapazes, modelos tipo masculino, em estudos mais recentes, isso pode estar relacionado com os esforços crescentes que podem relacionar alguns pais e alguns educadores com a promoção de uma educação de género neutra, diríamos mesmo, não esclarecida (Todd et al. 2018).

Embora, em média, os rapazes e as raparigas tendam a adotar comportamentos conformes com seu sexo, algumas crianças, felizmente uma minoria, exibem desvios dessas tendências pois revelam o que se chama de uma não conformação natural com os comportamentos normais para o seu género (van Beijsterveldt, Hudziak & Boomsma, 2006).

Neste artigo, iremos focar os comportamentos de não conformação com o género padrão detetados já na infância e associados potencialmente com o desenvolvimento de atitudes de não conformidade com a sexualidade padrão.

 

A etiologia da não conformação com a sexualidade padrão

 

A etiologia, isto é, as doenças associadas com as diferenças individuais de não conformação com a sua sexualidade padrão foi investigada numa gama variada de estudos paralelos que lançaram uma nova luz nas contribuições relativas aos factores genéticos e ambientais demonstrativos destas características. Apesar de existirem variações de metodologias (incluindo as diferenças nos modelos genéticos testados assim como nas ferramentas de aferição de não conformação com a sexualidade padrão), e amostras (que incluem idades diferentes e fontes geográficas de amostragens similares), os resultados foram de certo modo consistentes ao longo dos estudos efetuados (Alnako et al. 2010; Bailey, Dunne,  Martin, 2000; Knafo, Iervolino,  Plomin, 2005; Van Beijstervledt, Hudziak,  Boomsma, 2006).

Para as meninas, existe uma significativa contribuição genética, e uma contribuição mínima  do ambiente partilhado entre gémeos por exemplo.

Para os meninos, as provas são menos consistentes, com alguns estudos a sugerirem que tanto os factores genéticos como os factores do meio contribuem significativamente para a variação dos casos de não aceitação da sexualidade padrão entre meninos e meninas. (Iervolino, Hines, Golombok, Rust, & Plomim, 2005;  Kanfo et al. 2005).

Outros estudos apontam mesmo para uma contribuição genética primária, semelhante ao que acontece com as meninas (Bailey et al., 2000; van Beijsterveldt et al., 2006).

Embora a prova de que as influências  genéticas e ambientais no que diz respeito à variabilidade da não aceitação da sexualidade padrão, tanto por meninos tanto por meninas, seja forte, a natureza específica destes factores continua a ser algo ainda por esclarecer.

Os factores relacionados com o ambiente que incluem factores sociais como o estilo de educação dos pais ou as interações progenitor-criança (Alanko et al. 2009; Landolt et al. 2004), ou factores biológicos como a exposição à testosterona pré-natal (que mostrou ser factor potenciador no desenvolvimento de comportamentos de tipo sexual) -  (sobre este assunto, rever Hines, 2010).

Neste artigo consideramos um factor que nunca foi explorado antes (que também ocorre na infância) que pode influenciar os casos da não aceitação da sexualidade padrão por meninos e por meninas e que também não pode ser categorizada de imediato como sendo algo de genético ou de pertencer apenas ao ambiente como consequência deste.

Casos tipo de reincarnação

O fenómeno das crianças que se lembram de uma “vida anterior” ocorre em muitos países à volta do mundo (Stevenson, 2001). Nos últimos 50 anos, os investigadores colecionaram sistematicamente, estudaram e demonstraram na literatura esses casos cunhando o termo de casos tipo de reencarnação (CTR) e encontraram mesmo semelhanças comuns entre eles.

Estas crianças começam nestes casos a falar espontaneamente acerca da vida de outra pessoa (referido este tópico como sendo a “personalidade anterior” PA), tipicamente estas situações começam à volta da idade de dois anos e cinco anos e terminam com a idade aproximandamente situada entre os seis e os oito anos. 

Em alguns casos, as informações que a criança transmite acerca da personalidade anterior (PA) são tão específicas que permitem mesmo a identificação da pessoa falecida que se liga diretamente com o testemunho da criança. Às vezes esses casos incluem características adicionais que vão para além dos relatos orais da criança, como por exemplo, a criança ter nascido com uma marca de nascença ou com defeitos no corpo que correspondem a feridas fatais da personalidade anterior (PA) (Stevenson , 1997), ou para os comportamentos que a criança exibe por exemplo, os seus gostos, as suas preferências, os seus valores, os seus medos, tudo isso pode estar relacionado com a sua personalidade anterior (PA), ou seja, com a sua vida passada.

Uma característica interessante destacada em casos anteriores que foram cientificamente documentados ocorre quando a criança se lembra de ter vivido uma vida anterior com um género diferente do que tem agora. 

Muitas dessas crianças têm comportamentos de não conformação com o seu próprio género de nascimento (Stevenson, 1977; Tucker, & Keil; 2001).

Neste artigo, iremos investigar sistemicamente a associação existente entre os casos de mudança de sexo ocorridos devido à reencarnação e relembrados posteriormente na infância que denotam ser casos de não aceitação da sexualidade padrão quer por meninos quer por meninas.

Iremos expor o que encontramos ao longo de uma vasta coleção de casos registados cientificamente destes casos para futura discussão académica entre autoridades competentes na matéria.

 

Métodos Usados

 

Base de Dados Cort

Mais de 2200 casos de reencarnação registados em vários países foram investigados e devidamente documentados pela Universidade de Virgínia, no Departamento de Estudos da Percepção, de acordo com a protocolo desenvolvido pelo professor Ian Stevenson (1977a).

Quando um caso novo é investigado, um investigador vai conduzindo a pesquisa através de várias entrevistas com a criança, com os pais da criança e com parentes próximos e distantes que vão servindo como testemunhas fidedignas das especificidades, verídicas ou não, de cada caso registado.

O objetivo destas investigações é avaliar de uma forma sistémica as provas das diferentes explicações encontradas para cada caso, incluindo os casos que demonstrem ser apenas anomalias.

Registamos as provas encontradas e os casos registados por investigadores e investigações usando uma lista de verificação adotada através da metodologia Cort para guiar as nossas entrevistas.

Todas as pessoas entrevistadas deram-nos informações credíveis e também o seu consentimento voluntário. Além disso as crianças que participaram nestes estudos gozavam de boa saúde física e mental atestada perante os investigadores. Este estudo foi devidamente aprovado e registado pela Conselho Científico do Departamento de Psicologia e Comportamento da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos da América.

Seguindo os procedimentos normais da angariação de prova, cada caso foi numerado e codificado por codificadores treinados que criaram 208 variáveis que podem ter lugar para classificar estes casos (essa criação veio da compilação das notas dos investigadores na ficha de registo deste trabalho). Essas variáveis entraram para um sistema de base de dados SPSS 24. As variáveis incluem, entre outras, a demografia de cada individuo e da sua personalidade prévia (PP), além disso foram registadas características distintas como a presença de marcas de nascimento e também os comportamentos associados aos da personalidade prévia (PP). Foi também desenvolvido um cronograma que acompanha todo historial de cada caso.

As variáveis específicas usadas neste estudo estão descritas em baixo. A base de dados agregada foi usada previamente para explorar as características em destaque ao longo dos múltiplos casos num esforço de elucidação sem paralelo quanto aos processos subjacentes a este fenómeno (Sharma  Tucker, 2004; Stevenson & Haraldsson, 2003; Tucker, 2000).

Neste estudo estão referidas as experiências das crianças, os seus testemunhos, as suas declarações, os comportamentos que pertenciam também às memórias das suas vidas anteriores referidas como recordações lembradas da vida passada.

No entanto, e para facilitar a linguagem, iremos omitir as citações ao longo deste artigo.

 

Participantes e Data

A nossa amostra de estudo foi retirada de uma vasta base de dados onde estão registados os casos de crianças que reportaram ter lembranças da sua vida passada. Identificamos especificamente 469 casos (21.0% da nossa base de dados de onde constam 2238 casos) onde foi dada a seguinte informação: sexo da pessoa, sexo da personalidade passada (PP) e informação acerca dos comportamentos que não se identificam com a sexualidade padrão, tanto de meninos como de meninas. Os casos estudados nestes estudos têm a sua origem num total de 23 países diferentes, incluindo Sri Lanka (29% da amostra total), Turquia (27%), Índia (10%), Myanmar (10%), Estados Unidos (10%), Tailândia, Líbano, Canada e Brasil.

Nestas amostras, os casos que registamos, têm uma relação direta entre o sujeito e a personalidade passada (PP) que foram de sexo diferente e que foram definidos como sendo casos de “alteração de sexo” (107,22.8%), e os outros casos, onde a mesma identidade de género se prolongou, foram definidos como sendo “casos de sexo idêntico”.

A informação acerca da não conformação com a sua sexualidade foi retirada de um conjunto de notas dos investigadores e das narrativas dos sujeitos e suas famílias, foi codificada posteriormente como sendo positivo ou negativo.

Os comportamentos de não conformação com o seu sexo padrão incluem por exemplo: usar roupas, cortes de cabelo, estilos de apresentação, estilo de brincadeira, disforias de género, etc…

Nesta investigação, o método patenteado por Ian Stevenson afirma as seguintes questões:

“A criança tem um comportamento semelhante ao que foi visto no sexo oposto?”

 

Resultados do estudo

A associação entre o tipo de memórias passadas e a não aceitação da sexualidade padrão foi significativa e relevante. Assim, as memórias de alteração de sexo associadas com as maiores probabilidades de comportamentos de não aceitação da sua sexualidade padrão comparadas com memórias que têm o mesmo sexo da vida presente foi de oitenta por cento de crianças com memórias de alteração de sexo face à vida presente, comparado com apenas 5.8% de crianças com memórias prévias de um sexo que não se alterou na vida presente.

 

 

 

 


Conclusão a tirar deste estudo:


- A reencarnação pode explicar com clareza os casos de não conformação com o género dado à nascença pela Natureza.


Artigo publicado em:


INTERNATIONAL JOURNAL OF SEXUAL HEALTH https://doi.org/10.1080/19317611.2018.1523266


 Childhood Gender Nonconformity and Children’s Past-Life Memories Marieta Pehlivanova, Monica J. Janke, Jack Lee and Jim B. Tucker Division of Perceptual Studies, Department of Psychiatry and Neurobehavioral Sciences, University of Virginia School of Medicine, Charlottesville, Virginia, USA

  

 tradução de . ' . Raphael

 

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