Artigo da Revista Rosacruz - Abril, Maio e Junho de 2021


Páscoa — 2021

 

 

        Sai este número da ROSACRUZ quase na véspera da Páscoa. Por este motivo, e também porque a revista é de esoterismo, parece-nos que ficaria bem consagrarmos algumas palavras a este assunto. É o que aqui vamos fazer.       Páscoa[1] é uma palavra hebraica, pasach, que significa “passar sobre”. Vamos ver a que passagem se refere esta palavra.

Diz-se que, durante longos anos, os Egípcios mantiveram os Hebreus na mais dura escravidão. Porém, estes animaram sempre, na sua alma, a ânsia de se libertarem, de serem um povo livre de subjugações.

Certo dia, surgiu nas águas do rio Nilo um menino, que misteriosamente para ali fora levado, exactamente para muito próximo do local onde a filha do Faraó ia tomar banho. Esta, ao encontrar a estranha criança, um menino perfeitíssimo, levou-o para o seu palácio e encarregou-se da sua criação e educação.

Assim, porque foi encontrado nas águas do Nilo e delas foi retirado, o nome que lhe deram foi “Moisés”[2] (que significa “tirado” ou “saído” das águas, das Canas).

Moisés passou toda a sua vida no seio da família real do Egipto, tendo mesmo sido iniciado nos Mistérios Serpentinos[3].

Com efeito, segundo o historiador judeu Flávio Josefo, do século I d. C, a princesa que adoptou Moisés tinha o nome de uma divindade serpentina, Thermuthis. O bastão era tão sagrado que foi colocado na Arca da Aliança. E Javé enviou contra o seu povo seraphim. A palavra “Serafim” significa “serpente venenosa ou brilhante” (Nm 21, 6-9)”. Foi posteriormente associada ao “poder de curar” e à “iluminação espiritual”.

Porém, a sua missão junto do Faraó foi a de libertar os Hebreus. Moisés assim a cumpriu depois de uma estranha e bárbara luta durante a qual usou toda a ciência misteriosa que recebeu entre os “serpentinos”!

Desta ciência, sabe-se que as próprias forças da Natureza obedeciam a Moisés e delas ele fez o uso que quis para dominar o monarca egípcio e o levar à “libertação” do povo hebreu de modo a que este “partisse” do Egipto, terra de escravidão e opressão.

O Sol estava (por precessão) nos últimos graus da constelação do Touro, e aproximava-se da seguinte, a constelação do Carneiro, arquétipo de grande dinamismo. Por isso, quando em cada ano o Sol entra neste signo, a Natureza renova-se inteiramente (chega a Primavera). Foi nesta época então que o Egipto se notabilizou.

Entre os Hebreus, o ano religioso[4] começa no equinócio da Primavera e tem 12 ou 13 meses. Cada mês tem início no momento da Lua Nova.

Como o ciclo lunar é aproximadamente de 29 dias e meio, os meses podem ter a duração de 29 ou 30 dias.

Moisés, sabedor da ciência dos astros, conhecida somente pelos iniciados, sabia que tudo quanto há-de levar rápido crescimento deve ser começado quando a Lua está na fase crescente. E esse impulso será ainda maior se ela estiver em signos cardinais. Por isso, “preparou” tudo para que a saída do Egipto ocorresse na véspera da Lua Cheia depois de o Sol entrar no signo do Carneiro. E assim aconteceu.

Este dia ficou para sempre na História do povo Hebreu como sendo o Dia da Libertação da “escravatura” egípcia e, por tal razão, chamou-se Pasach, em português, Páscoa[5].

A Páscoa cristã comemora a ressurreição de Cristo. Também é uma festa móvel e deveria, em teoria, ser celebrada na mesma altura da Pesach judaica.

No entanto, devido à animosidade entre uns e outros, evitou-se que as respectivas cerimónias ocorressem no mesmo dia.

Os Hebreus, comemoram a Páscoa no dia da Lua Cheia[6], após a entrada do Sol no signo do Carneiro (Ex 12).

As confissões cristãs em geral celebram a Páscoa no primeiro domingo após a Lua Cheia a seguir ao equinócio da Primavera[7].

Na realidade, os cristãos associam a esta altura do ano dois acontecimentos relevantes.

Por um lado, o nascimento de Jesus, que se admite ter ocorrido no referido mês de Nisan e durante o recenseamento da população (Lc 2, 1-2).

E também, como já vimos, a sua morte, na véspera da Páscoa, como se ambos tivessem ocorrido no mesmo ciclo lunar de Nisan, entre os meses de 14 de Março e 13 de Abril[8].

De um modo geral, os religiosos evocam sobretudo, nesta altura do ano, a morte e a ressurreição de Jesus. Mas nós vamos bastante mais longe e explicamos dois factos distintos.

O primeiro é a “ressurreição” da própria Natureza que, na Primavera, se desdobra em flores e frutos para alimentação de todos os seres que vivem na Terra.

O segundo facto lembra o pacto selado pelo sangue de Jesus, derramado no calvário. Na realidade, o sangue é o vínculo físico do espírito com o corpo. A força oculta no sangue de Jesus, poderosamente impregnado pelos corpos vital e de desejos do Cristo Cósmico, veio alterar as vibrações dos mesmos veículos planetários, onde ficou como fermento da ascensão humana para a glória celeste. A partir desse momento é possível à Humanidade comutar as suas penas (decorrentes da lei de causa e efeito), o que não era já viável durante a Lei Antiga.

Por este e por outros motivos, a Páscoa recorda-nos uma série de factos dignos do nosso maior apreço e estudo.

 

Francisco Marques Rodrigues

 

RR 264, Abril, Maio e Junho de 1977.

 

Boas festas

 

FMR

 

RR 264, 1977.



[1] [A festa da Páscoa, guardada pelos cristãos nos tempos pós-apostólicos, era a continuação da festa judaica e não foi instituída por Jesus nem sequer estava relacionada com a quaresma].

 

[2] [Nota. Vd. F. C. Moisés e o Mar das Canas, Revista Rosacruz, nº 355,  Janeiro, Fevereiro e Março de 2000, p.17 ss.]

 

[3] [Nota. O culto serpentino era uma prática dos “Seguidores de Hórus”. No livro do Êxodo (4, 3-4), o bastão de Moisés transforma-se numa serpente, assim como o de Aarão, (Ex 7, 10-12)]

[4] [Nota. O ano civil principia no equinócio do Outono].

 

[5] [Nota: É uma festa móvel nacional com duração de sete ou oito dias, depois do 14 do mês de Nisan, o primeiro mês do ano religioso. Ocorre entre Março e Abril do calendário gregoriano. N. da R.].

[6] [Nota. Neste ano de 2021, a Páscoa ocorre no dia 28 de Março, sendo precedido de jejum na véspera].

 

[7] [Nota. Por decisão do Concílio de Niceia, em 325 d. C. As diferenças no cômputo e os calendários mostram que a distância entre as duas Páscoas é, por vezes, considerável. As igrejas cristãs orientais utilizam um calendário diferente: a Igreja Ortodoxa, que utiliza o calendário juliano, celebra a Páscoa no ano corrente no dia 2 de Maio; e nós, que seguimos o calendário gregoriano, em 4 de Abril. N. da R.].

 

[8] [Nota. A data do nascimento de Jesus não é assinalada nos textos bíblicos. O facto de ter ocorrido durante o censo determinado por César Augusto (Lc 2, 1-2), e de os rebanhos serem apascentados ao ar livre, sugere que este evento tenha ocorrido numa época do ano mais propícia para viagens. Possivelmente no mês de Nisan, entre Março e Abril, ou em Setembro e Outubro, durante a Festa do Tabernáculos ou das Colheitas (Dt 16, 13).

Dada a importância que se atribuía ao mês de Nisan, por ser o primeiro do ano judaico, a tradição associa a festa da Anunciação (25 de Março), à da crucificação.]

 

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